Juliana Damasceno

Brincar com o gato utilizando laser faz mal?

Pesquisa recente revela que a utilização do brinquedo tem relação com a frequência de comportamentos compulsivos nos felinos.

Escrito por Juliana Damasceno

13 NOV 2024 - 09H00

Gatos são predadores natos e necessitam expressar comportamentos relacionados à caça, por isso é indicado que todos os dias os tutores dediquem pelo menos 10 minutos estimulando seus felinos a brincarem de caçar. Para essa finalidade, atualmente o mercado pet tem desenvolvido diversas opções de brinquedos interativos para o entretenimento dos gatos, sendo o “laser pointer” uma delas. Mas será que o laser é uma boa forma de estimulação para os felinos?

Algumas questões importantes estão relacionadas a utilização do laser como brinquedo, dentre elas: a frustração e a hiperestimulação. A frustração tem relação ao ponto do laser ser inalcançável, não importa o quanto o gato cace ele nunca conseguirá finalizar o comportamento de “apreender” o objeto, tornando a atividade frustrante. Além disso, para os felinos o odor de tudo tem muito valor, a principal via de comunicação deles é a olfativa, por isso sentir o cheiro dos objetos também é fundamental, assim como o das suas potenciais presas, o que também não é possível com o laser.

A questão relacionada à hiperestimulação também está ligada à frustração, alguns gatos são altamente atraídos pela movimentação do laser e por sua “desaparição” instantânea. Duas pesquisas recentes, uma publicada em 2021 e outra agora em 2024, realizada por pesquisadores da Califórnia, confirmaram que a utilização do laser para brincar com gatos tem relação com a execução de comportamentos repetitivos anormais como olhar fixamente para um ponto ou objeto, encarar obsessivamente o reflexo de uma luz ou perseguir o rabo, por exemplo.

Portanto, para beneficiar a saúde física e emocional dos gatos devemos utilizar brinquedos que eles consigam realizar o comportamento completo de caça, como por exemplo varinhas com ratos e penas nas pontas. No momento da estimulação o ideal é realizar movimentos que simulem uma presa, se afastando e se escondendo do felino, e após ele encontrar, emboscar, perseguir e atacar ele possa carregar a presa se desejar. O comportamento de caça precisa completar seu ciclo para que o felino execute todas as atividades relacionadas a ele. Ainda melhor, se o momento da brincadeira for finalizado com uma alimentação úmida, que é altamente benéfica para a hidratação deles, tem maior efeito de saciedade, completando o ciclo da caçada: caçou, pegou e comeu.

E se ainda assim o laser for utilizados como entretenimento, é importante seguir as seguintes recomendações:

  • utilize esporadicamente, revezando com outros tipos de brinquedos para o gato;
  • realize sessões breves, de poucos minutos;
  • faça movimentos lentos para que o gato possa perseguir;
  • indique a luz em locais que o gato consiga alcançar;
  • não aponte o laser nos olhos;
  • diminua a intensidade gradativamente antes de finalizar a brincadeira;
  • troque por outro brinquedo que ele se sinta atraído, aponte o laser no brinquedo ou finalize com um petisco, apontando o laser no alimento e finalizando a brincadeira.

Enriquecer o ambiente e a mente dos nossos gatos é essencial para promover bem-estar, por isso devemos estar sempre comprometidos com a qualidade do que fornecemos a eles. Prefira buscar tipos variados de estímulos para que seu felino possa se engajar em comportamentos naturais da espécie. E caso ele esteja apresentando qualquer comportamento anormal, procure um especialista em comportamento felino.

Por:

  • Juliana Damasceno
  • Bióloga, Mestre e Doutora em Psicobiologia
  • Fundadora da WellFelis, Comportamento e Bem-Estar Felino

Grigg, E. K., & Kogan, L. R. (2024). Associations between Laser Light Pointer Play and Repetitive Behaviors in Companion Cats: Does Participant Recruitment Method Matter?. Journal of Applied Animal Welfare Science, 27(2), 250-265.

Kogan, L. R., & Grigg, E. K. (2021). Laser light pointers for use in companion cat play: Association with guardian-reported abnormal repetitive behaviors. Animals, 11(8), 2178.

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