Juliana Damasceno

Gatos e visitas: o que fazer quando o felino tem medo de pessoas desconhecidas

Escrito por Juliana Damasceno

28 FEV 2024 - 09H05 (Atualizada em 28 FEV 2024 - 19H36)

Para muitos gatos o barulho do interfone ou campainha já é um presságio que o perigo está por vir, alguns já correm para se esconder, escolhendo locais como embaixo da cama, móveis e dentro de armários. Alguns se aventuram a sair dos esconderijos após perceberem que nada de mal lhe afetará, mas outros somente se sentem seguros após a completa ausência da pessoa desconhecida. Mas porque isso acontece?

Essa necessidade de se esconder na presença de pessoas desconhecidas, ou que não participam do convívio diário do gato, pode ocorrer como um comportamento natural de autopreservação da espécie. Gatos são animais territoriais, estabelecem um território na natureza e se sentem protegidos e seguros em seu ambiente, para eles qualquer animal ou pessoa que seja de fora de seu contexto pode representar uma ameaça. Os gatos necessitam do controle e previsibilidade ambiental para se sentirem protegidos, pois na natureza ocupam uma posição de serem predadores, mas também são predados por muitos animais, qualquer que seja do mesmo tamanho e principalmente, maiores que eles. Portanto, na natureza os gatos nos veem como predadores e potenciais ameaças. Tudo aquilo que é desconhecido do seu convívio social e ambiental, pode ser perigoso.

Apesar de ser um comportamento natural de autopreservação, essa condição em um ambiente doméstico afeta o bem-estar do felino, promovendo desconforto e estresse nos gatos em algumas situações. Principalmente quando a presença de pessoas de fora do convívio são mais duradouras, ou ainda, quando há a necessidade da ausência dos tutores e alguém fica responsável pelos cuidados dos felinos. Em ambas as situações o nível do estresse pode ser tão alto, que chega a causar prejuízos na saúde física e emocional dos gatos. Alguns indivíduos não se sentem seguros para comer, realizar suas necessidades básicas e se hidratarem, por exemplo. Pelo nível de estresse, podem desenvolver distúrbios comportamentais como agressividade, eliminação em local inadequado, automutilação, entre outros.

Para cada gato o nível de medo será diferente, e essa variável está relacionada ao quanto esse indivíduo foi sociabilizado principalmente durante os primeiros meses de vida, o período sensível. Quanto mais contato com pessoas diferentes, com experiências positivas, o gato tiver em seu primeiro ano de vida, mais sociável ele será na vida adulta e menos medo ele terá nessas situações. A sociabilização dos filhotes nos primeiros meses está diretamente relacionada com a saúde emocional dele quando adulto, pois quanto maior o contato positivo com pessoas, outros animais, objetos e sons diferentes, mais seguro e confiante esse adulto será. Essa flexibilização comportamental permite que o gato tenha maior capacidade de lidar com desafios e imprevisibilidades na vida adulta, tornando-o um indivíduo mais saudável física e mentalmente. Por isso, quando temos um filhotinho em casa o recomendado é que ele tenha o máximo de contato possível a diferentes pessoas, animais e estímulos, sempre relacionados a recursos positivos e favoritos, para que a aprendizagem e memória tenham relação com boas experiências.

Dicas para que um filhote não tenha medo de pessoas:

1) Relacione a presença de uma visita a uma boa experiência, filhotinhos amam brincar, ofereça para a visita brincar sentada no chão com um brinquedo que ele goste, por exemplo;

2) Não force o contato, alguns filhotes podem já apresentar medo de pessoas, por isso evite pegá-lo no colo e fazer a pessoa afagar ou pegar o contato sem ele se sentir confortável, contatos forçados causarão uma aprendizagem negativa a outra pessoa;

3) Após relacionar a presença da pessoa desconhecida com algo bom e favorito, estimule que a pessoa acaricie o gato em regiões como cabeça, bochecha e queixo, essas são áreas que o gato se sente mais confortável e seguro para toque;

4) Reforce toda evolução positivamente, sempre que o gato engajar em uma interação com a pessoa, demonstre reações positivas falando o nome dele e acariciando.

Quando os gatos não tiveram essa preparação quando filhotes, ou passaram boa parte da vida sem muito contato com pessoas diferentes, também é possível ensiná-los a serem mais confiantes e sociáveis na presença de pessoas desconhecidas.

Dicas para tornar o adulto que tem medo, mais sociável:

1) Tenha refúgios assertivos: embora eles escolham locais como embaixo de móveis e dentro de armários esses não são locais apropriados, e podem retardar o processo de sociabilização. Locais seguros são aqueles que o gato se sente abrigado, mas que permite que eles tenham controle do ambiente e oportunidade de fuga (entrada e saída). Indica-se bloquear o acesso aos refúgios não ideais (nos móveis da casa) e oferecer opções como tocas, túneis e nichos para se abrigarem. Posicione esses refúgios em cômodos preferidos da casa, em localizações que consigam ver o que acontece no ambiente, como em cima de algum local mais elevado;

2) Impeça os alertas: para o gato que tem medo, campainha, interfone e bater na porta já sinalizam que o perigo está chegando. Para que ele tenha uma nova experiência, peça para a pessoa lhe avisar de sua chegada antes de precisar dar o sinal. Peça para enviar uma mensagem no telefone, avise a portaria para liberar o acesso etc.; 3) Torne a experiência segura: se o gato tem muito medo e prefere ficar escondido, no refúgio ideal, evite que a visita tenha acesso a ele. Não ofereça para ela vê-lo, não o pegue ou force contatos. Enquanto a pessoa estiver em sua casa, logo na chegada, vá até o local que ele escolheu para se abrigar e ofereça recursos favoritos como: um alimento que ele adora, carinho ou um brinquedo, sem a presença da pessoa;

4) Recompense avanços: se o gato se aventurar a aparecer, peça para a pessoa evitar contato visual, físico ou se direcionar a ele. Enquanto isso, você tutor, recompensa o avanço ofertando os itens favoritos e mais valiosos para ele como um alimento palatável como sachê, patê ou petisco, por exemplo. Para esses momentos, um brinquedo bem atrativo e que permita interação a distância como varinhas longas com penas e laser podem ser uma boa forma de você deixá-lo mais confortável.

5) Deixe que ele faça a menção de contato com a pessoa: conforme o gato se sentir mais confiante com a falta de perigo da presença da pessoa, ele iniciará investigações, como querer sentir o cheiro do humano em questão. Muitos iniciam a aproximação e isso não quer dizer que eles já estejam seguros para receberem toque por exemplo, podendo até mesmo demonstrar agressividade. Por isso, é recomendado que a pessoa tenha nesse momento acesso aos recursos favoritos para ofertar, caso o gato aceite o petisco da visita, por exemplo, reforce demonstrando expressões faciais e tons de voz agradável em relação ao ocorrido.

6) Evite repreender: muitos tutores ficam envergonhados com alguma reação de medo ou agressividade que seus gatos apresentem nessas situações. É importante lembrar que eles estão reagindo dessa maneira pois estão se sentindo em perigo, e a figura do tutor deve ser positiva para que ele se sinta mais seguro, e não negativa.

Com essas dicas valiosas, os felinos aos poucos ganharão mais confiança na presença de visitas e pessoas desconhecidas. Caso seja possível, inicie com momentos mais breves e frequentes antes de uma estadia da pessoa mais longa na casa. Quando isso acontecer, em um momento festivo, por exemplo, quando recebemos mais pessoas em casa, tenha uma parte da casa isolada para os animais, com todos os recursos que eles necessitam, para que não haja o impedimento da utilização da caixa de areia, comida e refúgios assertivos.

Se o seu gato tem medo de pessoas e você vai viajar, contrate, com antecedência, um profissional especializado, como um cat sitter, para atendê-lo. Assim será possível a realização de visitas prévias para que o gato esteja familiarizado ao profissional quando o atendimento acontecer. Na WellFelis, realizamos esse procedimento com frequência para que na ausência dos tutores os gatos tenham bem-estar social durante o atendimento e os tutores possam viajar tranquilos sabendo que seus gatos estão bem.

Gatos mais sociáveis são gatos mais seguros e com níveis de bem-estar mais elevados, com melhor saúde física e emocional, dê a chance para seu felino ser mais feliz, independente da sua idade.

Por:

Juliana Damasceno

Bióloga, Mestre e Doutora em Psicobiologia

Fundadora da Wellfelis Comportamento e Bem-Estar Felino

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