Juliana Damasceno

Quebra-cabeças alimentares para gatos: o que são e como podem beneficiar o bem-estar dos felinos?

Comedouros que promovem um desafio para a alimentação são uma tendência do mercado pet, mas como eles podem influenciar na qualidade de vida dos gatos?

Escrito por Juliana Damasceno

20 JUL 2022 - 07H00

Com o aumento dos pets nos lares e em nossa vida moderna, muitos produtos vêm sendo desenvolvidos para facilitar os cuidados, promovendo conforto e sofisticação para a vida dos nossos amados bichanos. Mas quantos desses novos produtos estão focados em proporcionar bem-estar aos animais, considerando seus aspectos biológicos? Embora estejam inseridos em uma realidade humana, nossos animais de estimação possuem necessidades específicas de cada espécie e nem sempre o conforto da vida humana os beneficia.

Felinos são conhecidos por sua alta capacidade predatória, são os carnívoros mais especializados e possuem seus aspectos anatômicos, sensoriais e comportamentais moldados há milhares de anos na escala da evolução para serem ágeis, silenciosos e precisos na caça. Visão, tato, olfato e audição são altamente desenvolvidos para detectarem as presas e serem assertivos na emboscada. Para os gatos se alimentarem na vida livre, eles precisam passar horas do dia encontrando, espreitando, perseguindo e atacando presas.

Mas a vida no apartamento não é assim, o conforto de uma cama quentinha e a comida à vontade no pote parece o cenário perfeito para uma “vida de rei” e para quem observa sem as lentes de uma análise mais aprofundada, essa parece ser a situação perfeita para os gatos, mas não é bem assim. Uma rotina monótona e sem desafios promove estresse e ansiedade. A falta de oportunidades para executar comportamentos essenciais como os de caça, podem gerar problemas de comportamento, obesidade e outras questões que prejudicam a saúde física e mental.

Para tornar a vida mais dinâmica e desafiadora, precisamos estimular que os pets a executarem comportamentos naturais, novos e que promovam oportunidades de realizarem escolhas, e tudo isso se torna possível com técnicas de enriquecimentos ambientais. Os comedouros interativos, quebra-cabeças alimentares ou comedouros lentos são os nomes para os enriquecimentos alimentares que podemos e devemos oferecer a eles. Uma forma interativa e desafiadora de alimentar nossos animais em ambiente doméstico, estimulando seus sentidos e permitindo que realizem comportamentos próximos de sua realidade.

Dificultar a alimentação de seus amados felinos pode parecer difícil para os gateiros. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2020 revelou que 30% dos tutores de gatos ofereciam comedouros interativos para seus gatos, mas 18% tentaram oferecer e não oferecem mais, a maioria citou que os animais não utilizaram por serem preguiçosos demais. Nesta mesma pesquisa, muitos respondentes também citaram “sentirem pena” pelo gato ter dificuldade de pegar o alimento. Uma pesquisa ainda mais recente, de 2022, revelou que ao oferecer o alimento livre (sem comedouro) ou em um comedouro interativo, a maioria dos gatos preferiram o alimento em livre acesso, contrariando o efeito chamado “contrafreeloading” que ocorre em alguns animais, que consiste na escolha de trabalhar pelo alimento ao invés de escolher se alimentar de forma sem esforço.

Mas se os gatos escolhem o alimento de maneira mais fácil, por que devemos “dificultar” o acesso dos gatos ao alimento? Assim como há o efeito de “contrafreeloading”, também há a lei do menor esforço, e os gatos colocam isso em prática. Na natureza economizar energia é essencial, por isso a estratégia de caça que eles mais utilizam é a de “sentar e esperar”. Essa estratégia se baseia em detectar o local onde a presa se abriga, espreitar e aguardar que ela saia da “toca” para ser surpreendida, assim, com as patas eles retiram o animal de dentro do esconderijo de maneira certeira. Essa estratégia tem maiores chances de acertos e o gato economiza energia e se alimenta mais.

Em casa, a ração fresquinha no pote está sempre disponível e não há presas para serem caçadas, e nem devemos permitir que eles tenham acesso a presas reais. Além de poderem se contaminar com parasitas eles causam um verdadeiro impacto na fauna silvestre.

A estimulação que um comedouro interativo é capaz de fornecer pode simular a prática do “sentar e esperar” e devemos ensiná-lo gradativamente a utilizar um comedouro interativo, estimulando-o e recompensando seu comportamento. Ao se alimentar em um comedouro desafiador, estamos estimulando os órgãos do sentido como a visão, o olfato e o tato. Também proporcionamos a estimulação cognitiva e reduzindo a compulsão alimentar, fazendo com que o gato se alimente mais lentamente. Alguns gatos, pelo ócio, redirecionam toda a sua atividade para alimentação, comendo em demasia e se tornando obesos. Uma pesquisa revelou que 80% dos gatos em criação domiciliada estão com sobrepeso. A obesidade não só prejudica o sistema fisiológico podendo ser porta para outras doenças como pode prejudicar as articulações e a saúde mental dos gatos, prejudicando a aprendizagem e a memória, por exemplo.

Para ensinar o gato a utilizar um comedouro interativo recomendo iniciar por um nível mais fácil, o tipo de desafio que ele consiga ver o alimento e sentir o cheiro de maneira livre. Adicione um alimento palatável como um petisco ou alguns grãos de uma ração diferente, análoga a que você já oferece comumente. Conforme o gato vencer os desafios iniciais, parabenize-os com tons agudos e carinhosos, isso fará com que ele compreenda que está no caminho certo. Gradativamente vá aumentando a quantidade de alimento no comedouro interativo e reduzindo as porções do comedouro convencional e não se esqueça de sempre o parabenizar quando ele utilizar o interativo. Com o tempo, retire o comedouro convencional e proporcione novos pontos do comedouro interativo, e quando este desafio já estiver fácil para o seu gatinho, comece um novo com um grau de dificuldade maior. Alguns comedouros interativos no mercado atual já possuem a possibilidade do aumento do grau de dificuldade.

Você também pode fazer um comedouro interativo para seu gato em casa, com materiais recicláveis como uma caixa de ovos ou uma garrafa pet, por exemplo. Mas sempre tome muito cuidado com a segurança, lave bem os materiais, verifique se há superfícies cortantes, orifícios que eles podem prender a pata ou a cabeça, ou ainda materiais que eles tenham interesse em ingerir.

A estimulação de caçar seu próprio alimento beneficiará o felino aumentando seus níveis de gasto energético, permitindo que ele coloque em prática sua capacidade de resolver problemas, ative o repertório comportamental predatório e utilize seus sentidos desenvolvidos para essa função.

E você, já desafiou seu felino a brincar de caçar seu alimento hoje?


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