Em sua origem ancestral os gatos possuíam o hábito de viver solitariamente, diferente dos cães, por exemplo, que já possuem uma origem ancestral social. Apesar da origem solitária longo do processo de domesticação o gato passou a conviver em pequenos grupos, denominados colônias, aumentando sua flexibilidade de sociabilização. No entanto, a formação desses grupos é dependente de fatores específicos, como tamanho do território e a disponibilidade de recursos, por isso atualmente são denominados como sociais facultativos. Portanto, a territorialidade dos gatos em relação ao seu ambiente é um fator importante no processo de adaptação de um novo animal, tanto por defender este ambiente, quanto pela quantidade e disposição dos recursos no ambiente.
Ao receber um novo animal em casa, a primeira impressão de um felino será que este novo individuo representa uma ameaça, já que ele não é considerado parte de seu grupo social, o que pode gerar diversas consequências na saúde física e emocional de ambos os animais, tanto nos residentes, quanto no introduzido. Uma introdução abrupta de um animal pode gerar, estresse, ansiedade, queda da imunidade, assim como questões comportamentais como: agressividade (direcionada ao novo animal ou aos humanos da casa), eliminação em locais inadequados, apatia, isolamento, queda da alimentação, queda da hidratação, entre outros.
Para evitar que essas situações ocorram seguem dicas importantes para uma boa adaptação de um novo pet:
1) Se possível escolha um bom “match”: se a introdução de um novo pet puder ser programada, escolha um animal que tenha um perfil parecido com os demais de casa. Idade e temperamento devem ser as principais características a serem consideradas. Por exemplo, evite introduzir um filhote se você já tem animais idosos em casa. Os níveis de energia de um filhote podem causar extremo estresse nos idosos.
2) Prepare o ambiente: se você tem um gato e vai receber outro gato o ideal é triplicar os recursos (a conta segue sempre o valor de n+1, por exemplo 3 gatos = 4 recursos de cada). Devemos considerar como recursos-chave os 5 a seguir: comedouros, bebedouros, caixas de areia, arranhadores e locais de descanso/abrigo. Se você tem cães e vai receber gatos, ou tem gatos e vai receber um cão, o ideal é suspender os recursos além de ampliá-los. Eleve os locais dos recursos para que os cães não tenham acesso e facilite o alcance pelos gatos com degraus e prateleiras. A verticalização do ambiente auxilia muito no deslocamento, segurança e controle do território. Para mais informações sobre verticalizalção do ambiente, recomendamos assistir este nosso vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=3BV5FGJtEL4
3) Não apresente de primeira: prepare um cômodo de adaptação inicial para o novo pet, contendo todos os recursos que ele irá precisar. Precisamos lembrar que as primeiras impressões aqui contam, e que para o novo animal chegar em um ambiente desconhecido também pode ser muito estressante;
4) Inicie a adaptação primeiramente por odores: ofereça objetos contendo odores do novo animal para os residentes inspecionarem, mas sem forçá-los. Adicione em uma localização neutra no ambiente (longe de recursos favoritos e essenciais) e recompense-os quando eles interagirem com o objeto;
5) Associações positivas: inicie os primeiros contatos primeiramente pela porta de divisão, oferecendo recompensas com estímulos favoritos que eles gostem como: brinquedos, alimentos palatáveis etc.
6) Vá aumentando o contato gradativamente: aguarde até cada animal estar seguro da presença do outro pela fresta da porta, intermediando os contatos positivamente;
7) Tenha o auxílio de um profissional se possível: um profissional especializado em comportamento animal será importante para guiar passo a passo nesse processo. Ele saberá identificar se algum indivíduo precisa de tratamento ou treinamento especial, além de auxiliar em cada etapa do processo de adaptação.
Com essas dicas a adaptação tenderá a ser mais tranquila e eficiente. É sempre muito importante compreender que cada individuo terá seu tempo de adaptação, tanto ao novo ambiente quanto aos demais animais, por isso é fundamental não forçar os contatos e respeitar os limites de cada um. Os residentes, como originais “donos” do território devem ter sempre prioridade. Sendo assim, os novos integrantes começarão sempre ganhando o espaço aos poucos, de maneira controlada incialmente.
O período de adaptação varia muito de acordo com cada caso, podendo levar entre 2 meses até anos. Outro fator determinante para que tudo ocorra bem é a ausência de conflitos, desta forma a gradatividade e segurar a ansiedade são fundamentais nesse processo.
Após uma adaptação realizada de maneira estruturada e respeitosa, os indivíduos tendem a ter uma relação de harmonia e muitas vezes podem até mesmo serem excelentes companheiros.
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Por
Juliana Damasceno
Bióloga, Mestre e Doutora em Psicobiologia
Fundadora da Wellfelis Comportamento e Bem-Estar Felino
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